O silêncio cúmplice da esquerda frente ao acordão das elites em Alagoas

7/12/25

/ Por Redação
O encontro entre Lula, Marluce, Lira e JHC aconteceu em Brasília - Foto: Divulgação/Assessoria

O que por muito tempo circulou como mero boato nos corredores da política alagoana agora se confirma como um movimento político consolidado. A indicação da procuradora Maria Marluce Caldas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ultrapassa o campo técnico e revela uma engrenagem cuidadosamente ajustada entre figuras centrais do poder nacional e estadual: o presidente Lula (PT), os líderes Arthur Lira (PP) e Renan Calheiros (MDB), o ministro Renan Filho (MDB) e o prefeito de Maceió, JHC (PL). O objetivo é claro — reconfigurar o tabuleiro político de Alagoas mirando as eleições de 2026.

As movimentações apontam para um desenho estratégico: Arthur Lira e Renan Calheiros devem disputar vagas no Senado; Renan Filho se reposiciona como candidato ao governo estadual; e JHC, por sua vez, encerraria seu ciclo à frente da prefeitura da capital, afastando-se da corrida pelo Executivo estadual. É uma composição em que todos preservam suas trajetórias e em que nenhum confronto direto ameaça desestabilizar a engrenagem. O pacto mantém viva a fórmula da velha política, vestida de pragmatismo, mas sustentada pela manutenção das elites no poder — ainda que vendida como articulação democrática.

O aspecto mais simbólico dessa reaproximação entre adversários históricos é o silêncio generalizado — e, em especial, da esquerda institucional. Nenhuma nota oficial, nenhuma crítica pública, nenhum posicionamento que questione abertamente a aliança entre Lula e expoentes do conservadorismo alagoano. Nem mesmo os discursos recentes em defesa da renovação partidária, proferidos durante o Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, encontraram eco frente à movimentação que, na prática, contradiz a promessa de mudança.

Esse mutismo pode ter múltiplas explicações: cálculo estratégico, fragilidade estrutural dos partidos locais, falta de lideranças com força de mobilização ou mesmo simples conivência. Mas independentemente da origem, o efeito é um só — o acordo avança sem contestação, enquanto a lógica de poder permanece intacta, blindada por uma governabilidade que se sobrepõe a qualquer enfrentamento simbólico.

A nomeação de Marluce Caldas, tia de JHC, ao STJ, torna-se assim não apenas um gesto técnico, mas o selo de uma engrenagem oligárquica que se adapta para permanecer. A estrutura de dominação regional não se sustenta por ideologias, mas pela maleabilidade com que recompõe alianças e neutraliza rupturas. Em Alagoas, a política tem menos a ver com disputa de visões de mundo do que com a arte de não se enfrentar.

Mesmo a esquerda mais crítica — intelectuais, movimentos sociais, lideranças populares — tem mantido distância. Nenhum esforço visível para denunciar o avanço de uma lógica conservadora que, em outros momentos, teria gerado mobilização e protesto. Quando até a divergência silencia, o consenso se impõe com naturalidade.

Essa ausência de reação talvez seja o elemento mais revelador de todo o episódio: não se trata apenas de um acordo pontual entre líderes políticos rivais, mas de um pacto maior que acomoda contradições e dissolve conflitos em nome de uma estabilidade que pouco transforma — e muito preserva.

Nenhum comentário

Postar um comentário

© 2022 - 2024 | Olhar Político. Todos os direitos reservados.
A republicação é gratuita desde que citada a fonte.