Após dias de silêncio, Lula comenta escândalo do INSS e tenta culpar gestão anterior, mas governo já perdeu narrativa

5/12/25

/ Por Redação

Lula | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quebrou o silêncio neste sábado (10) e finalmente comentou publicamente o escândalo dos descontos indevidos nos benefícios pagos pelo INSS. Como vinha sendo antecipado por seus aliados, Lula culpou a gestão anterior pelos desvios, mantendo o discurso de que seu governo teria apenas descoberto e combatido as irregularidades. No entanto, o dano político já está feito, e analistas avaliam que o governo perdeu a disputa narrativa sobre o tema.

Com a eleição de 2026 já no horizonte e o Planalto mergulhado precocemente na disputa, Lula tem mais a perder do que ganhar ao adiar explicações. A tentativa de transferir a responsabilidade para a gestão anterior não convence, especialmente diante do crescimento dos descontos durante a atual administração.

A reação tardia também comprometeu a defesa governista. As demissões de Alessandro Stefanutto da presidência do INSS e de Carlos Lupi do Ministério da Previdência Social ocorreram a contragosto e depois de forte pressão. No caso de Lupi, a substituição pelo seu número dois acentuou a percepção de continuidade e não de mudança.

Outro fator que pesa contra o governo é a ligação histórica de Lula com movimentos sindicais. Embora as entidades envolvidas nas fraudes não sejam formalmente sindicatos, compartilham características associativas semelhantes — e uma delas, inclusive, tem um irmão do presidente entre seus dirigentes.

Enquanto isso, a oposição bolsonarista avança com discurso simples e de forte apelo nas redes sociais. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) tem se destacado nesse campo. Seu vídeo sobre o caso INSS, embora contenha distorções e tente isentar o ex-presidente Jair Bolsonaro, já ultrapassou 136 milhões de visualizações no Instagram, neste sábado.

Para efeito de comparação, o deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) também publicou um vídeo responsabilizando Bolsonaro, mas não conseguiu alcançar nem 1 milhão de visualizações no mesmo período. A diferença escancara o abismo de engajamento digital entre os dois polos políticos.

Esse cenário lembra o ocorrido no caso do Pix, em que um vídeo de Nikolas também forçou o governo a recuar de uma norma da Receita Federal sobre monitoramento de movimentações financeiras.

Tudo isso aponta para um governo que, quase dois anos e meio após sua posse, ainda luta para consolidar sua autoridade e narrativa pública. A popularidade de Lula tem oscilado negativamente, e internamente já se admite que o desgaste é real — ainda que o discurso oficial continue tratando o problema como uma questão de “comunicação”.

O governo tenta reverter o quadro com promessas de novos benefícios sociais, estratégia que especialistas consideram arriscada diante do cenário fiscal. Com a eleição de 2026 no radar, o Planalto parece dobrar a aposta, mas o preço pode ser alto.

Enquanto isso, a oposição segue ganhando terreno nas redes e na opinião pública. E, para o governo Lula, essa é apenas uma entre as muitas batalhas que ainda poderá perder até o próximo pleito presidencial.

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