Medo de efeito Nikolas fez governo recuar do IOF quase meia-noite

5/24/25

/ Por Redação
Efeito Nikolas fez governo recuar do IOF | Foto: Reprodução
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu voltar atrás, na noite da última quinta-feira (22), em parte das alterações anunciadas no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O recuo foi motivado pela forte repercussão negativa da medida, principalmente nas redes sociais, e pelo receio no Planalto de uma nova crise de comunicação semelhante à ocorrida com o Pix, em janeiro deste ano.

A decisão foi tomada às pressas após a equipe do governo detectar o potencial de desgaste público, em especial com o temor de um novo “efeito Nikolas” — referência ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), conhecido por conteúdos virais que já impuseram fortes pressões sobre o Planalto. Em janeiro, um vídeo publicado por Nikolas contra suposta taxação do Pix alcançou mais de 100 milhões de visualizações em apenas um dia, obrigando o governo a recuar rapidamente.

Mais recentemente, o parlamentar também ganhou projeção ao denunciar descontos indevidos em benefícios do INSS, aumentando o desgaste do governo com aposentados e pensionistas.

Recuo às pressas

Diante do risco de nova crise, os ministros Rui Costa (Casa Civil), Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) se reuniram às pressas no Palácio do Planalto com técnicos da área jurídica para revisar o decreto publicado horas antes pelo Ministério da Fazenda. O ministro Fernando Haddad, que estava em São Paulo, participou das discussões por videoconferência.

O ponto mais polêmico do decreto era a previsão de uma alíquota de 3,5% de IOF sobre investimentos de fundos brasileiros no exterior, operação até então isenta do imposto. O anúncio provocou forte reação do mercado financeiro, que alertou para possíveis efeitos negativos sobre os investimentos e um sinal de controle de capitais.

Sidônio Palmeira defendeu que o recuo fosse anunciado ainda na madrugada, antes da abertura do mercado financeiro. O governo seguiu a orientação, publicando a mudança por volta das 23h30 nas redes sociais oficiais.

Haddad: “Corrigir a rota faz parte”

Na manhã desta sexta-feira (23), Fernando Haddad confirmou o recuo e minimizou a repercussão. “Corrigir a rota faz parte. O importante é manter a direção da política econômica”, declarou o ministro. Ele negou qualquer intenção de inibir investimentos e afirmou que a alteração inicial visava ajustes técnicos, mas que o governo optou por rever para evitar ruídos e especulações.

O episódio reacendeu críticas sobre a falta de coordenação entre áreas técnicas e políticas dentro do governo, especialmente em temas de impacto econômico. Também reforçou a preocupação crescente do Planalto com a comunicação digital e o potencial de dano causado por figuras da oposição com grande alcance nas redes sociais.

Com mais um recuo em questão sensível, o governo reforça o sinal de que, em tempos de viralização rápida e polarização digital, as decisões técnicas precisam vir acompanhadas de estratégia política e comunicação eficaz — sob o risco de novos desgastes e da repetição de um “efeito Nikolas”.

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